O que é ser simples? Já parou para pensar? Será que você é? Será
que reconhece quem seja? O que a resposta a essas perguntas influenciam na nossa
caminhada cristã e no nosso relacionamento com o próximo? Vamos bater um papo sobre
esse estilo de vida que, acredite ou não, é uma Disciplina Espiritual.
Obs: Destacarei em azul, trechos do livro A
Celebração da Disciplina, de Richard Foster, da Editora Vida. Usarei
como material principal do nosso estudo.
Tudo que aprendi se resume nisto: Deus
nos fez simples e direitos, mas nós complicamos tudo.
Eclesiastes 7:29
Eclesiastes 7:29
A
simplicidade está no coração de Deus. Imagine se fosse você ou eu tivéssemos
criado o Universo, nosso Planeta, o Ser Humano e toda e qualquer forma de vida.
Não sei você, mas eu teria uma grande tendência a detalhar o que fiz e dizer
para todos que ‘Fui eu’. Graças a Deus que Ele não
sou eu. Basta olharmos para a vida de Jesus, o Deus que se fez homem, o criador
desse Universo que acabamos de falar, o sustentador da vida, que nasceu da
forma que foi e viveu sem regalia alguma. Ou você acha que na sua época não
existiam seus tablets, iphones, e carrões? Lógico que não, (rs). Mas, com certeza, tinham as melhores sandálias, feitas dos melhores couros, as melhores túnicas e
os melhores cavalos. Em momento algum na bíblia encontramos referência a
algumas dessas preocupações por parte do Mestre e temos nEle nosso padrão também
nessa área, pelo menos deveríamos ter.
(Para continuar
preciso confessar um pecado publicamente: Há poucos dias me vi discutindo em
casa com a minha esposa sobre uma “necessidade” minha de ter um celular de última
geração, usando como pretexto minha profissão e mobilidade. Mas a verdade era o
fato de ver muitos com os quais convivo terem um celular melhor que o meu. Ao
estudar o que exponho aqui, pude perceber meu erro e voltar atrás nas minhas intenções.
Feita a reparação, continuemos...)
Simplicidade é liberdade. Conheci muitas pessoas simples na minha vida. Gostaria de
destacar duas delas: A primeira é um amado irmão em cristo, Rodrigo Castro. Conheci Rodrigo no início da minha juventude e, enquanto eu morava em uma
comunidade pobre e mau tinha dinheiro para pegar ônibus, Rodrigo era de uma
família de classe média alta, já tinha um carro e estava terminado um curso de
tecnologia em uma das Universidades mais caras do estado de Pernambuco. Mas nada
disso o afastou de mim e dos nossos amigos, em pouco tempo Rodrigo se tornou um
de nós, o Evangelho de Cristo fez isso em seu coração. Sua mesada usava para
ajudar pessoas necessitadas, eu fui uma delas, e seu carro já não era seu, era
nosso. Eu lia a Bíblia e via Jesus em nossa amizade. Fica minha homenagem e
gratidão; A segunda pessoa é Simea Meldrum. A pastora Simea foi um dia nos
buscar na comunidade e nos apresentou o Amor. Através dela Deus entrou na minha
vida, converteu meu coração e me inseriu no Seu Reino. Com uma voz doce e uma
paciência sobrenatural ela “adotou” um bando de meninos e foi sua mãe
espiritual durante um bom tempo. Após isso, iniciou um trabalho em um famoso e
miserável lixão na cidade de Olinda que ficou conhecido internacionalmente por
ter pessoas comendo pedaços de carne humana recolhidos do lixo hospitalar (segue link com a reportagem de 16/04/1994 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/4/16/brasil/53.html), implantando lá uma igreja e sua vida, cuidando de
centenas de pessoas sem esperança e dignidade, sendo a mãe que um dia foi para
mim. Minha admiração, gratidão e amor.
Ansiamos possuir coisas das quais não precisamos e jamais
desfrutaremos. Até compramos coisas que não queremos para impressionar pessoas
das quais não gostamos.
A frase
acima é verdade. Quantas vezes compramos algo com todos aqueles recursos
oferecidos que nunca usamos? Pense direitinho... Compramos para quê? Mais profundo ainda...
Compramos para quem? O que nos move hoje não é a necessidade e sim o prazer. O
prazer de ter, de mostrar. Responda a seguinte pergunta: Se ninguém tivesse e, não
tivesse a quem mostrar, você teria? Conformar-se com uma sociedade doentia é
adoecer.
Perceba
a sutil inversão de valores: O herói moderno é o garoto pobre que por esforço próprio se
torna rico, em vez de ser o garoto rico que voluntariamente se torna pobre.
Quero destacar agora o que nos ensina alguns trechos da Palavra
de Deus:
Se as suas riquezas aumentam,
não ponham nelas seu coração. Sl 11:28
Quem confia em bens materiais
cairá do cavalo, mas quem é moldado por Deus florescerá e dará bons frutos. Pv.
11:28
Saibam que o lugar em que mais
vocês desejam estar é perto do seu tesouro; e é lá que acabaram indo parar. Mt
6:21
Dirigindo-se ao povo continuou:
Tomem cuidado! Protejam-se de todo tipo de ganância. A vida não é definida
pelas coisas que você tem. Lc 12:15
Diga aos ricos na riqueza deste
mundo que deixem de lado a empáfia e a obsessão por dinheiro, que está aqui
hoje e desaparece amanhã. Diga-lhes que busquem Deus, que ajunta muitas
riquezas que jamais conseguiríamos administrar, e façam o bem, para que sejam
ricos em ajudar os outros e sejam pra lá de generosos. Se agirem assim, irão
ajuntar um tesouro que vai permanecer e ainda obterão a vida que é verdadeira
vida. 1Tm 6:17-19
Mas existe um problema nisso
tudo. De todas as disciplinas, a
Simplicidade é a mais visível e, portanto, a mais sujeita à corrupção. A
própria simplicidade transforma-se em idolatria quando passa a ter mais
importância que a busca pelo Reino. Num comentário especialmente profundo a
respeito dessa passagem das Escrituras, SØren Kierkegaard considera o tipo de esforço que se pode fazer para buscar o Reino de Deus.
Deveria alguém arrumar um emprego adequado a fim de exercer uma influência
virtuosa? Sua resposta: não; devemos buscar primeiro o Reino de Deus. Então
deveríamos distribuir todo o dinheiro que temos para dar de comer aos pobres?
Novamente a resposta é: não; devemos buscar primeiro o Reino de Deus. E quanto
a sair por ai pregando essa verdade pelo mundo, isto é, que as pessoas devem
buscar primeiro o Reino de Deus? Mas uma vez a resposta sonora é: não; devemos
buscar primeiro o Reino de Deus. Kierkegaard concluiu que, “em certo sentido a
resposta é: nada; torna-se nada diante de Deus, aprender a permanecer em
silêncio. Nesse silêncio, está o início, ou seja, buscar primeiro o Reino de
Deus.
O simples fato de alguém viver sem
possuir bens não garante que esteja vivendo com simplicidade. Se tudo que possuímos
é uma dádiva e se o que temos deve ficar aos cuidados de Deus e a disposição
dos outros estamos livres da ansiedade. Essa é a realidade interna da
simplicidade. E a primeira atitude interna da simplicidade é considerar dádiva
de Deus tudo que possuímos. Nós trabalhamos, mas sabemos que não é nosso
trabalho que nos dá o que temos. Vivemos pela graça, mesmo como se trata do “pão
de cada dia”. Dependemos de Deus para os elementos mais simples da vida: ar,
água, sol. O que temos não resulta de esforço nosso, mas do cuidado gracioso de
Deus. Somos tentados a pensar no que possuímos como resultado de esforços
pessoais, mas basta uma lig,eira estiagem ou um pequeno acidente para ficar
demonstrado outra vez que somos inteiramente dependentes das coisas. Saber que é
assunto de Deus, e não nosso, cuidar do que temos é a segunda atitude interna
da simplicidade. Por os bens a disposição dos outros é a terceira.
Beleza então... Mas como colocar essa simplicidade em prática? Dez
dicas importantes:
Em primeiro lugar,
compre as coisas pela utilidade que têm, não pelo status que conferem.
Pare de tentar impressionar as pessoas com suas roupas: deixe-as
impressionadas com sua vida.
Em segundo lugar,
rejeite qualquer coisa que crie em você alguma dependência. A simplicidade é
liberdade, não escravidão.
Em terceiro lugar,
desenvolva o hábito de dar coisas.
Em quarto lugar,
recuse a propaganda feita pelos guardiões da moderna quinquilharia eletrônica.
Em quinto lugar,
aprenda a desfrutar as coisas sem possuí-las.
Em sexto lugar,
desenvolva um apreço profundo pela criação.
Em sétimo lugar,
examine com ceticismo saudável todas as propostas “compre agora, pague depois”.
Em oitavo lugar,
obedeça às instruções de Jesus sobre falar direta e honestamente: “ Seja o seu ‘sim’,
‘sim’, o seu ,não’, ´não’; o que passar disso vem do maligno”. Mt.5:37
Em nono lugar,
rejeite qualquer coisa que seja instrumento de opressão.
Em décimo lugar,
afaste-se de qualquer coisa que o distraia de sua busca pelo Reino de Deus.
Que
possamos aplicar dentro de nós essa Revolução, essa desintoxicação. Vivemos na
era da hipocrisia e da ganância, somos bombardeados a vivermos como se vive a
maioria. Sem perceber, muitos caem de joelhos e amarrados como escravos seguem
um senhor que os distancia do verdadeiro Senhor, o Jesus da insignificante
Nazaré. Que essa Revolução da Simplicidade que começou há mais de 2.000 anos
atrás nos constranja a vivê-la por mais 2.000 anos se necessário for.
Seja livre. Seja simples.