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sábado, 16 de fevereiro de 2013

O DILEMA DE UM CÃO



   
Imagine a cena...

       Um cão de inteligência mediana (ou seja, quase nenhuma) está roendo um osso. O osso, uma vez parte vital da estrutura de uma vaca, está agora destituído de tutano e umidade, inútil para outra coisa que não seja estimular as gengivas do animal e exercitar a mandíbula.
       Você se aproxima do cachorro com as mãos para trás, ele olha para você meio desconfiado. Você fala suavemente, ele abana um pouco o rabo, dá um sorriso de cachorro e põe uma pata em cima do osso, farejando o ar sem muita certeza. Passando um momento, ele volta para o osso com uma lambida e está pronto para começar a roer de novo, mas você tira as mãos e mostra um bife de uns duzentos gramas, fresquinho. Essa manobra capta a atenção do animal 

e ele abana o rabo mostrando sua aprovação enquanto de novo cobre o osso com a pata. Ele pensa, ‘’Você precisa tratar bem um ser humano com um bife na mão’’ – ele sabe disso, mas não se lembra o porquê. 
       Você sorri e estica um pouco o braço – aquele que traz o bife na mão. O cachorro também sorri e se lambe. Você experimenta dar meio passo a diante, estendendo o bife como se o estivesse oferecendo, e ele, depois de um momento de indecisão paralisante, fica de pé e pega o osso, sem tirar os olhos de você.
       Você dá mais meio passo a diante. Não a nada de diferente, você continua a sorrir e a oferecer a carne, pensando que, por ser ele SEU cachorro, aquele que vai sorrateiramente para a sua cama quando você pega no sono, que lambe suas mãos suja de gordura de frango frito e bebe a água do seu vaso sanitário – você pensa que o animal vai interpretar sua aproximação como algo promissor. Mas, é incrível, ele se afasta, com os olhos procurando uma rota de fuga para que não fique encurralado e você possa fazer algo terrível com ele.
        Essa não é absolutamente sua intenção.
        Você quer apenas agradá-lo e lhe oferecer um bifão como prova disso. Mesmo que haja no bife algum remédio para cachorro, isso também é para o bem dele, e você espera que o animal, se não sabe de nada, saiba pelo menos disso.
         E para fazer justiça, ele desconfia de um jeito meio vago e indefinido – você é aquela pessoa que sai e depois volta de uma forma tão impressionante, e ele não tem ideia de como você faz isso, mas fica admirado toda vez que isso acontece. E você é aquele que sempre lhe dá comida, atenção e até brinca com ele. Ele o ama e fica eufórico quando ouve o barulho que significa que você vai passar por aquela abertura na parede que aparece e desaparece tão de repente – e ele até fica imaginando, ‘’como isso acontece?’’ E agora lá está você oferecendo-lhe uma carne; caramba, a aparência é ótima, e ele dilata as narinas quando  você balança aquela guloseima saborosa na frente dele; ele não entende direito por que está se afastando  com aquele osso duro, se você está ali com um enorme bife fresquinho e ele não precisa fazer outra coisa – e ele sabe disso enquanto abaixa o rabo e o abana devagar entre as pernas – ele não precisa fazer outra coisa a não ser soltar o osso. Basta soltar o osso e você com quase toda a certeza – ele não sabe por que você o faria, mas não lhe cabe questionar; pelo que se lembra, ele não fez nada para merecer o bife, mas você é uma pessoa muito boa; isso explica um pouco por que ele o ama – com quase toda a certeza você lhe dará a carne, e ele só precisa soltar o osso, e, puxa vida, esse pedaço e carne é lindo, e o osso está seco, e ele pegaria  carne em um segundo, pois confia em você e vê que você está segundo o bife bem na sua frente, quase encostando em seu focinho. Mas o rabo está entre as pernas, e ele quase não abana mais – naquelas circunstâncias, é muita pressão para um cachorro – e quais são as circunstâncias? Você está com o bife, ele é lindo, e é claro que você entregará se ele soltar o osso, mas você precisa entender uma coisa: o bife é só uma promessa, ele sabe que o osso pode não ser muita coisa, mas o osso é uma realidade concreta e está com ele.

           Esse é o dilema de um cão. Você entendeu a dificuldade do animal, não entendeu?


         (Retirado do livro: Falsos, Metidos e Impostores.Onde foi parar seu verdadeiro Eu? de Brennan Manning,)                                                                                         
                                         
               "Não fuja das dificuldades, não procure ajuda para sair delas rapidamente. Permaneça. O Senhor o fará atravessá-las. Resultado? Você deixará de escorregar." Charles Swindoll